São Paulo, 23 de julho de 2025 – A Avaliação de Tecnologias em Saúde (ATS) no Brasil enfrenta falhas estruturais que comprometem a eficiência e a sustentabilidade do sistema de saúde suplementar, a previsibilidade regulatória e o acesso equitativo às inovações. O novo trabalho do Instituto de Estudos de Saúde Suplementar (IESS), “Avaliação de Tecnologias em Saúde na Saúde Suplementar: Desafios e Oportunidades para o Sistema Brasileiro”, aponta relevantes desafios a serem superados para o aperfeiçoamento do sistema. Clique aqui e acesse a íntegra da publicação.
O estudo tem coautoria de Nelson Teich, ex-ministro da Saúde, em parceria com Felipe Delpino, pesquisador do IESS, e integra a série “Caminhos da Saúde Suplementar: Perspectivas 2035”. A falta de integração entre o Sistema Único de Saúde (SUS) e a saúde suplementar, ausência de critérios claros de custo-efetividade e de análise da capacidade econômica de absorção de uma nova tecnologia proposta e a baixa integração entre bases de dados públicas e privadas estão entre as principais adversidades do modelo atual.
Ao analisar modelos internacionais de ATS, como os adotados pelo Reino Unido (NICE) e Canadá (CADTH), o estudo salienta que essas experiências devem ser analisadas com cautela e adaptadas às especificidades do Brasil, que possui um sistema de saúde híbrido, profundamente desigual e com grande variação regional. Esse contexto também reforça a necessidade de avaliação cautelosa sobre a criação de uma agência única de ATS, que, embora potencialmente benéfica, pode ter riscos de centralização excessiva e perda de agilidade.
Por isso, o estudo propõe um modelo intermediário de coordenação técnica com autonomia decisória. Essa abordagem permitiria a padronização de critérios e o compartilhamento de evidências entre os setores, enquanto preservaria a flexibilidade necessária à saúde suplementar e ao SUS. A interoperabilidade entre os sistemas de informação seria um passo crucial nesse processo, permitindo maior eficiência nas análises e no monitoramento das tecnologias já incorporadas.
Outro ponto central da proposta é o uso estratégico de saúde digital – big data e inteligência artificial. Com registros eletrônicos integrados e algoritmos avançados de análise, seria possível identificar padrões de efetividade e segurança em tempo real, acelerar processos e reduzir riscos de decisões baseadas em evidências frágeis ou desatualizadas.
“A saúde digital pode ser a grande alavanca da transformação na ATS. Mas, sem um marco regulatório consistente e interoperável, continuaremos operando no escuro”, afirma José Cechin, superintendente executivo do IESS.
O estudo estima que a criação de uma agência nacional robusta de ATS demandaria investimentos entre R$ 100 milhões e R$ 150 milhões, com custos operacionais anuais de até R$ 80 milhões. O modelo de financiamento sugerido é híbrido, envolvendo recursos públicos e privados, e inspirado em práticas adotadas na Austrália, no Canadá e na Alemanha.
O atual modelo brasileiro de ATS, criado há mais de 50 anos, tornou-se obsoleto diante das transformações tecnológicas, demográficas e epidemiológicas. A inexistência de uma política nacional coordenada e a baixa articulação entre Conitec (SUS) e ANS (saúde suplementar) resultam em avaliações duplicadas, decisões assimétricas e insegurança jurídica, tanto para operadoras quanto para pacientes.
Segundo o trabalho, um dos principais entraves é a ausência de critérios objetivos e transparentes para a incorporação de novas tecnologias, como limiares explícitos de custo-efetividade, impacto orçamentário e capacidade real de pagamento — ou de absorção dos custos pelo sistema. A falta desses parâmetros dificulta a tomada de decisão e agrava a judicialização. Além disso, o sistema atual ignora a necessidade de considerar a sustentabilidade financeira como condição central para a adoção de qualquer inovação. “A fragmentação atual da ATS no Brasil não é apenas um problema técnico, mas um entrave estratégico à sustentabilidade do sistema”, reforça Cechin.
Para ilustrar a gravidade do problema, o estudo destaca o impacto da judicialização motivada por temas relacionados à ATS. Estimativas do Ministério da Saúde indicam que, ao final de 2024, as ações judiciais contra o SUS envolvendo o uso de tecnologias — incluindo medicamentos — geravam um custo estimado de R$ 2 bilhões ao ano. Embora esse valor não inclua a saúde suplementar, ele dimensiona o peso econômico causado pela ausência de processos eficientes e previsíveis na incorporação tecnológica.
“É preciso que a incorporação de uma tecnologia leve em conta não só sua eficácia, mas a real capacidade de pagamento do sistema de saúde. Sem isso, estamos lidando com promessas que não cabem no orçamento e viram frustração para os pacientes”, afirma Cechin.
Sobre o IESS
O Instituto de Estudos de Saúde Suplementar (IESS) é uma organização sem fins lucrativos que tem por objetivo promover e realizar estudos sobre saúde suplementar baseados em aspectos conceituais e técnicos que colaboram para a implementação de políticas e para a introdução de melhores práticas. O Instituto busca preparar o Brasil para enfrentar os desafios do financiamento à saúde, como também para aproveitar as imensas oportunidades e avanços no setor em benefício de todos que colaboram com a promoção da saúde e de todos os cidadãos. O IESS é uma referência nacional em estudos de saúde suplementar pela excelência técnica e independência, pela produção de estatísticas, propostas de políticas e a promoção de debates que levem à sustentabilidade da saúde suplementar.
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LetraCerta Inteligência em Comunicação
Jander Ramon
Este estudo especial da Série Caminhos da Saúde Suplementar: Perspectivas 2035 analisa os diferentes modelos de organização da ATS no Brasil, considerando as transformações recentes no arcabouço regulatório da Saúde Suplementar e as experiências internacionais bem-sucedidas. O estudo discute os desafios e oportunidades de diversos arranjos institucionais, incluindo seus impactos na eficiência dos processos avaliativos, no acesso a novas tecnologias e na sustentabilidade do setor, com atenção especial aos critérios de incorporação tecnológica e aos mecanismos para lidar com inovações de alto custo. Clique aqui e acesse a íntegra.
Novo estudo da série analisa oportunidades para o aperfeiçoamento do processo de incorporação de tecnologias na saúde a partir da adoção de uma agência única de avaliação de tecnologias. O documento faz um diagnóstico do atual momento, do forma fracionada e pouco eficiente do processo e apresenta experiências internacionais que podem servir de referência ao Brasil. Clique aqui e acesse a íntegra do estudo.
Você confiaria seus dados médicos a um sistema digital único, acessível em qualquer lugar, sem ter que repetir tudo a cada consulta? Na Estônia, isso já é rotina. No Brasil, ainda parece obra de ficção científica — mas talvez não por muito tempo.
O nosso estudo sobre Open Health, parte da série Caminhos da Saúde Suplementar: Perspectivas 2035, mostra que essa iniciativa pode ser o ponto de virada para modernizar todo o sistema de saúde – público e suplementar – a partir de medidas eficientes, cortes de desperdícios, agilidade de autorizações e envolver o paciente no controle da sua jornada de cuidado – e isso implica em mais responsabilidades.
Para entender o potencial dessa transformação, basta olhar para quem já faz bem feito: a Estônia é referência mundial em governo digital e integração de dados de saúde. Com blockchain desde 2012, o país garante rastreabilidade de cada acesso ao prontuário eletrônico. Tudo é transparente: o cidadão sabe quem consultou suas informações, quando e com qual finalidade.
Além disso, a experiência estoniana prova que abrir dados de forma segura não significa expor informações sensíveis, mas sim aumentar a confiança na gestão pública. Lá, governo, profissionais de saúde e cidadãos enxergam a interoperabilidade como um direito básico, não uma ameaça.
No Brasil, alguns passos já foram dados: ConecteSUS, RNDS, estratégias de saúde digital até 2028 e pilotos com blockchain em Minas Gerais mostram que temos base para evoluir. Um ponto central que o Open Health viabiliza é permitir que a pessoa carregue, de forma detalhada e segura, seu histórico de saúde para onde for — seja atendida na rede pública ou na privada, sem ficar refém de prontuários perdidos ou informações fragmentadas.
Mas esse futuro só será possível quando de fato enfrentarmos e superarmos um gargalo da digitalização da saúde: a interoperabilidade. Hoje, sistemas diferentes não conversam entre si como deveriam — e isso mantém a experiência do paciente fragmentada, cara e ineficiente.
E não se trata de copiar modelos prontos. É sobre criar um Open Health com identidade brasileira, respeitando nossa legislação, diversidade regional e os princípios de solidariedade que sustentam o setor.
Adiar essa discussão custa caro: exames duplicados, autorizações lentas, diagnósticos imprecisos. Um Open Health bem estruturado é investimento em um sistema mais humano, ágil e sustentável.
Quer entender como isso pode funcionar? Leia o estudo, participe do debate, pressione por avanços. O futuro da saúde suplementar precisa ser construído agora.
Clique aqui e acesse o estudo completo.
O novo estudo da série Caminhos da Saúde Suplementar – Perspectivas 2035 aponta soluções práticas para garantir acesso e integração ao da odontologia nas estratégias de cuidados. Também destaca desafios como o foco excessivo em procedimentos estéticos, o desequilíbrio regional na distribuição de profissionais e a importância de investir em formação voltada para prevenção e cuidado integral. Clique aqui e acesse a íntegra do estudo.
O novo trabalho produzido pelo IESS apresenta casos concretos de países que já implementaram modelos avançados de compartilhamento seguro e consentido de dados de saúde, promovendo maior integração entre sistemas e melhorando a experiência do paciente. O material faz parte da série “Caminhos da Saúde Suplementar: Perspectivas 2035”, que reúne análises estratégicas e tendências sobre o futuro do setor no Brasil. Clique Aqui e acesse a íntegra do estudo.
Série produzida pelo IESS reúne especialistas para antecipar tendências, propor soluções sustentáveis e fortalecer o sistema de saúde suplementar no Brasil. Preâmbulo, a primeira publicação da série, apresenta os princípios e foco do projeto. Clique aqui e acesse o conteúdo completo.