Estudo indica cuidados em terapias para TEA e reforça importância de abordagens baseadas em evidências
Em um momento de crescente atenção à causa do autismo no Brasil e no mundo, um novo estudo oferece uma contribuição valiosa para a compreensão e a qualificação dos tratamentos voltados a pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA). Desenvolvido em parceria entre o Instituto de Estudos de Saúde Suplementar (IESS) e a Genial Care — rede de clínicas especializada no cuidado de crianças autistas —, o levantamento analisa como aperfeiçoar modelos de tratamento ao propor meios para um cuidado mais equilibrado e embasado em ciência. Clique aqui e acesse a íntegra do estudo.
O Dia Mundial de Conscientização do Autismo, celebrado em 2 de abril pela Organização Mundial da Saúde (OMS), representa uma oportunidade para ampliar o debate e encorajar melhorias no plano terapêutico. Não há dados oficiais consolidados sobre a prevalência do TEA no Brasil. Por isso, o estudo “TEA na Saúde Suplementar” se baseia em estimativas internacionais como referência e a principal delas é a do CDC (Centers for Disease Control and Prevention), que aponta que 1 em cada 36 crianças está no espectro autista. Além disso, de acordo com o Ministério da Saúde, houve um aumento de aproximadamente 37% nos diagnósticos de TEA no Brasil entre 2014 e 2019. A prevalência estimada no País, com base em dados da literatura científica, fica entre 1% e 1,5% das crianças. Esses números indicam um crescimento importante nos diagnósticos — impulsionado por maior conscientização, melhoria dos critérios clínicos e ampliação do acesso a serviços especializados.
O estudo destaca, entre outros pontos, a recomendação para que os tratamentos tenham foco personalizado e a necessidade de adoção de práticas respaldadas por comprovação científica — a chamada “medicina baseada em evidências”. É o caso, por exemplo, de abordagens como a Análise do Comportamento Aplicada (ABA), o uso de suportes visuais e de comunicação alternativa. A distinção entre práticas clínicas, estratégias de ensino e estruturação de sessões também se mostra fundamental para a qualidade do atendimento.
“Podemos redefinir o tratamento do autismo com um foco maior na qualidade. Isso significa promover a autonomia e o potencial das crianças por meio de intervenções personalizadas, ajustadas conforme necessário e alinhadas com transições para outras terapias. Ciclos ágeis de avaliação permitem identificar e adaptar estratégias eficazes, garantindo resultados consistentes. A abordagem multidisciplinar enriquece o planejamento terapêutico, ampliando perspectivas e impactando positivamente o desenvolvimento”, explica o fundador e CEO da Genial Care, Kenny Laplante.
Embora a Resolução Normativa 539/2022 da ANS garanta a cobertura de qualquer técnica prescrita por um médico, a adoção de métodos terapêuticos sem respaldo científico pode comprometer os resultados e, em alguns casos, até agravar o quadro clínico do paciente.
Essa compreensão é essencial para orientar o processo de definição do plano terapêutico, sua execução e os objetivos clínicos traçados. Trata-se de uma responsabilidade compartilhada entre profissionais de saúde, entidades de classe, operadoras de planos, autoridades públicas e responsáveis pelos pacientes.
Contudo, os desafios são significativos. Um dos equívocos identificados pelo estudo é a excessiva carga horária de terapias, que pode gerar sobrecarga emocional, estresse familiar e uso ineficiente dos recursos disponíveis — sem necessariamente resultar em melhores desfechos clínicos.
“Há uma crença de que quanto mais terapia, melhor. O que o estudo mostra é que o foco deve estar na qualidade e personalização do cuidado, não na quantidade de horas”, afirma José Cechin, superintendente executivo do IESS.
Outros pontos críticos destacados pelo estudo incluem:
- O crescimento expressivo nos diagnósticos, sem expansão proporcional da rede de atendimento;
- A escassez de profissionais qualificados, como fonoaudiólogos e terapeutas ocupacionais;
A judicialização crescente e a falta de padronização entre clínicas e protocolos terapêuticos.
Apesar dos desafios, o estudo também aponta caminhos promissores. Entre eles, o uso de tecnologias como inteligência artificial e realidade virtual, que podem contribuir tanto para diagnósticos mais precoces quanto para o desenvolvimento de habilidades sociais e cognitivas.
Diante do aumento dos diagnósticos e da ampliação do acesso a tratamentos, começa a ser possível avaliar o histórico de pacientes e as abordagens utilizadas por diferentes prestadores, o que pode orientar políticas públicas e práticas clínicas mais eficazes.
O estudo recomenda, ainda, que para promover um modelo de cuidado mais eficiente e sustentável, é fundamental que toda a cadeia de valor da saúde invista em:
- Formação continuada de profissionais;
- Uso de indicadores objetivos de progresso terapêutico;
Maior integração entre políticas públicas e o setor suplementar.
Sobre o IESS
O Instituto de Estudos de Saúde Suplementar (IESS) é uma organização sem fins lucrativos que tem por objetivo promover e realizar estudos sobre saúde suplementar baseados em aspectos conceituais e técnicos que colaboram para a implementação de políticas e para a introdução de melhores práticas. O Instituto busca preparar o Brasil para enfrentar os desafios do financiamento à saúde, como também para aproveitar as imensas oportunidades e avanços no setor em benefício de todos que colaboram com a promoção da saúde e de todos os cidadãos. O IESS é uma referência nacional em estudos de saúde suplementar pela excelência técnica e independência, pela produção de estatísticas, propostas de políticas e a promoção de debates que levem à sustentabilidade da saúde suplementar.
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Jander Ramon